Discutia com uma amiga querida sobre
a definição correta e suas implicações quando veio à pergunta:
_ é possível ser leal e
infiel ao mesmo tempo? Ou, é possível ser desleal e fiel simultaneamente?
Lealdade e fidelidade são
valores próximos, dizem respeito ao comprometimento de uma pessoa com outra ou
com alguma coisa, grupo de pessoas, etc. São compromisso firmados implícita ou
explicitamente.
A fidelidade é o compromisso
de uma escolha particular, um acordo íntimo como a escolha de um time de
futebol, de uma convicção política, de uma convicção institucional como o
matrimônio. Partindo do pressuposto que todas as escolhas e convicções são
decorrentes de valores pessoas e de que estes valores podem se alterar com o
tempo, decorrente de fatos e situações por vezes alheias, a fidelidade não
poderia ser uma premissa, mas um valor filosófico e metafísico a ser idealizado,
uma afirmação da vontade e capacidade de comprometimento temporal, em resumo,
um valor nobre a ser cultivado porém com prazo de validade.
A Lealdade se assemelha
tanto no sentido quanto no valor, porém, transcende a própria fidelidade porque
pressupõe um fundamento mais amplo, enquanto a fidelidade diz respeito à
manutenção de um compromisso imposto, a lealdade parte do entendimento deste compromisso,
diz respeito a um envolvimento máximo da visão de uma complexa cadeia de
valores, do entendimento do princípio moral e reconhecimento da amplitude e
importância destes valores.
Na construção filosófica dos
valores morais, falamos da transformação da Heteronomia em Autonomia. Este
conceito foi desenvolvido pelo filósofo prussiano Immanuel Kant. Enquanto na
Heteronomia seguimos um conjunto de regras porque nos foram impostas pelo
coletivo, na Autonomia passamos a compreender a importância e relevância destas
regras, suas implicações, permitindo que façamos escolhas pessoais a partir da
nossa maturidade moral.
Então a fidelidade é heteronômia enquanto a lealdade, autônoma.
Na busca por definições mais
abrangentes e populares, me deparei com uma obra prima. Em poucas palavras, de
uma forma bem mais palpável, com todo o romantismo e praticidade que o tema
merece o cronista Ivan Martins nos presenteia com o texto abaixo:
IVAN
MARTINS
16/07/2014
08h32 - Atualizado em 16/07/2014 11h48
Nos
últimos dias, ando apaixonado pela palavra “lealdade”. Deve ser por causa de um
livro que estou terminando, um romance sobre antigos amigos e amantes que
voltam a se encontrar e precisavam acertar suas diferenças. Eles já não se
gostam, mas confiam um no outro. Eles deixaram de se amar, mas ainda se
protegem mutuamente. Isso é lealdade, em uma de suas formas mais bonitas.
Lealdade ao que fomos e sentimos.
Ao ler o romance, me ocorreu que amar é fácil. Tão
fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer
nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e
sensações que não somos capazes de controlar. A lealdade não. Ela não é
espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro.
Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é
uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade
talvez se manifeste o melhor de nós.
Antes que se crie a confusão, diferenciemos:
lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser
fiel significa, basicamente não enganar sexual ou emocionalmente o seu
parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie
de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde
oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com
sentimentos. Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo,
coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém
perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.
Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a
mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro
e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o
outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho.
Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.
A primeira vez que deparei com a lealdade no cinema
foi num filme popular de 1974, Terremoto. No final do drama-catástrofe,
o personagem principal – um cinquentão rico, heroico e boa pinta – tem de
escolher entre tentar salvar a mulher com quem vivia desde a juventude, com
risco da sua própria vida, ou safar-se do desastre com a jovem amante. Ele
escolhe salvar a velha companheira e morre com ela. Parece apenas um dramalhão
exagerado, mas desde Shakespeare o drama ocidental está repleto de escolhas
desse tipo. É assim que nos metem conceitos elevados na cabeça. Vi esse filme
com 16 e 17 anos e nunca mais deixei de pensar na lealdade em termos drásticos.
A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar
de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o
que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as
responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam
movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo,
nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se
manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se
estende além deles.
O romantismo, embora a gente não o veja sempre
assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida.
Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que
tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por
isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e
pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.
Minha impressão é que o mundo anda precisado de
lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos
machuca. Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém
nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo
falha em nossa intimidade, desabamos.
Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez
precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar
sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr
riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma
força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para
salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de
esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza
mais longe, bem mais longe.
Obrigado Ivan! Perfeito!
Perguntem a si mesmo, porque não ir mais longe?
Trilha pra meditar sobre o assunto...
Artista: LORDE
Glória e
Sangue
Há um
zumbido no ar do verão inquieto
E estamos
escorregando pelo rumo que preparamos
Mas em
todos os caos, há um cálculo
Que
soltam vidros apenas para ouvi-los quebrarem
Você
andou bebendo
Como se o
mundo fosse acabar (não acabou)
Deixou um
olho roxo com o punho
De seu
melhor amigo (vai entender)
É claro
que alguém tem que ir
Nós
queremos dizer isso
Mas
prometo que não estamos falando
E o grito
sai
Eles
perdem o controle para nós
E como
acontece
Agora
estamos no ringue
E estamos
vindo pelo sangue
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos
os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são
fantásticos (oh-oh)
Mas
secretamente são salvadores
Glória e
sangue andam de mãos dadas
É por
isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a
vitória é contagiosa
Delicado
em todos os sentidos, menos uma (a esgrima)
Deus sabe
que gostamos de diversões tipo arcaicas
(À moda
antiga)
A chance
é o único jogo com o qual eu jogo, querido
Deixamos
nossas batalhas nos escolherem
E o grito
sai
Eles
perdem o controle para nós
E como
acontece
Agora
estamos no ringue
E estamos
vindo pelo sangue
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos
os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são
fantásticos (oh-oh)
Mas
secretamente são salvadores
Glória e
sangue andam de mãos dadas
É por
isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a
vitória é contagiosa
Ninguém
por aqui é bom em manter os olhos fechados
O sol
está começando a aparecer
Quando
estamos voltando para casa
Risadinhas
cansadas, promessas de ouro e de mentira
Sempre
vencemos nisso
Nunca
penso sobre a morte
Tudo bem,
se você pensa, tudo bem
Somos
como espadas mas acho que
Estamos
realmente lutando contra nós mesmos
Intimidando
as nossas cabeças
Para que
estejamos prontos quando chegar a hora de matar
Bem
acordada na cama, as palavras no meu cérebro
"Secretamente
você ama isso, você ainda quer se livrar? "
Deixe-me
entrar no ringue
Vou te
mostrar o que essas grandes palavras significam
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos
os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são
fantásticos (oh-oh)
Mas
secretamente são salvadores
Glória e
sangue andam de mãos dadas
É por
isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você
poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a
vitória é contagiosa