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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Lealdade x Fidelidade



     Discutia com uma amiga querida sobre a definição correta e suas implicações quando veio à pergunta:
_ é possível ser leal e infiel ao mesmo tempo? Ou, é possível ser desleal e fiel simultaneamente?
     Lealdade e fidelidade são valores próximos, dizem respeito ao comprometimento de uma pessoa com outra ou com alguma coisa, grupo de pessoas, etc. São compromisso firmados implícita ou explicitamente.
     A fidelidade é o compromisso de uma escolha particular, um acordo íntimo como a escolha de um time de futebol, de uma convicção política, de uma convicção institucional como o matrimônio. Partindo do pressuposto que todas as escolhas e convicções são decorrentes de valores pessoas e de que estes valores podem se alterar com o tempo, decorrente de fatos e situações por vezes alheias, a fidelidade não poderia ser uma premissa, mas um valor filosófico e metafísico a ser idealizado, uma afirmação da vontade e capacidade de comprometimento temporal, em resumo, um valor nobre a ser cultivado porém com prazo de validade.
    A Lealdade se assemelha tanto no sentido quanto no valor, porém, transcende a própria fidelidade porque pressupõe um fundamento mais amplo, enquanto a fidelidade diz respeito à manutenção de um compromisso imposto, a lealdade parte do entendimento deste compromisso, diz respeito a um envolvimento máximo da visão de uma complexa cadeia de valores, do entendimento do princípio moral e reconhecimento da amplitude e importância destes valores.
     Na construção filosófica dos valores morais, falamos da transformação da Heteronomia em Autonomia. Este conceito foi desenvolvido pelo filósofo prussiano Immanuel Kant. Enquanto na Heteronomia seguimos um conjunto de regras porque nos foram impostas pelo coletivo, na Autonomia passamos a compreender a importância e relevância destas regras, suas implicações, permitindo que façamos escolhas pessoais a partir da nossa maturidade moral.
    Então a fidelidade é heteronômia enquanto a lealdade, autônoma.
    
    Na busca por definições mais abrangentes e populares, me deparei com uma obra prima. Em poucas palavras, de uma forma bem mais palpável, com todo o romantismo e praticidade que o tema merece o cronista Ivan Martins nos presenteia com o texto abaixo:

IVAN MARTINS
16/07/2014 08h32 - Atualizado em 16/07/2014 11h48

     Nos últimos dias, ando apaixonado pela palavra “lealdade”. Deve ser por causa de um livro que estou terminando, um romance sobre antigos amigos e amantes que voltam a se encontrar e precisavam acertar suas diferenças. Eles já não se gostam, mas confiam um no outro. Eles deixaram de se amar, mas ainda se protegem mutuamente. Isso é lealdade, em uma de suas formas mais bonitas. Lealdade ao que fomos e sentimos.
Ao ler o romance, me ocorreu que amar é fácil. Tão fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e sensações que não somos capazes de controlar. A lealdade não. Ela não é espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro. Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós.
    Antes que se crie a confusão, diferenciemos: lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser fiel significa, basicamente não enganar sexual ou emocionalmente o seu parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com sentimentos.     Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo, coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.
     Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho. Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.
     A primeira vez que deparei com a lealdade no cinema foi num filme popular de 1974, Terremoto. No final do drama-catástrofe, o personagem principal – um cinquentão rico, heroico e boa pinta – tem de escolher entre tentar salvar a mulher com quem vivia desde a juventude, com risco da sua própria vida, ou safar-se do desastre com a jovem amante. Ele escolhe salvar a velha companheira e morre com ela. Parece apenas um dramalhão exagerado, mas desde Shakespeare o drama ocidental está repleto de escolhas desse tipo. É assim que nos metem conceitos elevados na cabeça. Vi esse filme com 16 e 17 anos e nunca mais deixei de pensar na lealdade em termos drásticos.
    
      A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo, nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se estende além deles.
      O romantismo, embora a gente não o veja sempre assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida. Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.

      Minha impressão é que o mundo anda precisado de lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos machuca. Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo falha em nossa intimidade, desabamos.
       Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza mais longe, bem mais longe.

Obrigado Ivan! Perfeito!

Perguntem a si mesmo, porque não ir mais longe?






Trilha pra meditar sobre o assunto...

Artista: LORDE

Glória e Sangue

Há um zumbido no ar do verão inquieto
E estamos escorregando pelo rumo que preparamos
Mas em todos os caos, há um cálculo
Que soltam vidros apenas para ouvi-los quebrarem
Você andou bebendo
Como se o mundo fosse acabar (não acabou)
Deixou um olho roxo com o punho
De seu melhor amigo (vai entender)
É claro que alguém tem que ir
Nós queremos dizer isso
Mas prometo que não estamos falando


E o grito sai
Eles perdem o controle para nós
E como acontece
Agora estamos no ringue
E estamos vindo pelo sangue


Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são fantásticos (oh-oh)
Mas secretamente são salvadores
Glória e sangue andam de mãos dadas
É por isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a vitória é contagiosa


Delicado em todos os sentidos, menos uma (a esgrima)
Deus sabe que gostamos de diversões tipo arcaicas
(À moda antiga)
A chance é o único jogo com o qual eu jogo, querido
Deixamos nossas batalhas nos escolherem


E o grito sai
Eles perdem o controle para nós
E como acontece
Agora estamos no ringue
E estamos vindo pelo sangue


Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são fantásticos (oh-oh)
Mas secretamente são salvadores
Glória e sangue andam de mãos dadas
É por isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a vitória é contagiosa


Ninguém por aqui é bom em manter os olhos fechados
O sol está começando a aparecer
Quando estamos voltando para casa
Risadinhas cansadas, promessas de ouro e de mentira
Sempre vencemos nisso
Nunca penso sobre a morte
Tudo bem, se você pensa, tudo bem
Somos como espadas mas acho que
Estamos realmente lutando contra nós mesmos
Intimidando as nossas cabeças
Para que estejamos prontos quando chegar a hora de matar
Bem acordada na cama, as palavras no meu cérebro
"Secretamente você ama isso, você ainda quer se livrar? "
Deixe-me entrar no ringue
Vou te mostrar o que essas grandes palavras significam


Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas somos os gladiadores (Oh! Oh!)
Todos são fantásticos (oh-oh)
Mas secretamente são salvadores
Glória e sangue andam de mãos dadas
É por isso que estamos fazendo manchetes (Oh! Oh!)
Você poderia tentar e nos levar (oh-oh)
Mas a vitória é contagiosa

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